Começar (…) é um momento crucial, como começar a escrever um romance. E este é o momento da opção: oferece-se-nos a possibilidade de dizer tudo, de todos os modos possíveis, e temos de chegar a dizer uma coisa, de um modo particular (…).
Até ao momento anterior que começamos (…) temos á nossa disposição o mundo – o que para cada um de nós constitui o mundo, uma soma de informações, de experiências e valores – o mundo dado em bloco, sem um antes nem um depois, o mundo como uma memória individual e como potencialidade implícita; e nós pretendemos extrair deste mundo um discurso, uma narrativa, um sentimento: ou talvez mais exactamente pretendemos realizar uma operação que permita situar-nos neste mundo.
Toyo Ito, Sendai Mediatheque, 2001
Calvino toca aqui no cerne da questão: começar obriga-nos a situar-nos neste mundo ou, por outras palavras, estabelecermos uma estratégia para apreender esse mundo ou, em limite, parafraseando Nelson Goodman (Ways of Worldmaking, 1978), para fazer o próprio mundo.
Miralles, Mollet del Valles Park and Civic Center, 2000
Evidentemente que este Começar, quer para Calvino quer para Goodman, estabelece-se a partir da ideia de autor. Aquele que começa corresponde à ideia daquele que cria; daquele que escolhe, de entre múltiplos e complexos caminhos, inventar apenas um.
Steven Holl, Kisma Museum of Contemporary Art, 1998
Ser arquitecto é também ser autor; e por isso o acto de Começar é, para o arquitecto, o acto de escolher: uma estratégia, um conceito, um lugar, uma relação, uma ideia, um propósito, ou outra coisa qualquer. Mas começar é, para nós, sempre isso: escolher.
Herzog & de Meuron, Fundacion La Caixa, 2008
Regressando a Calvino:
Temos á disposição todas as linguagens (…) e nós pretendemos extrair delas a linguagem adequada para dizer o que queremos dizer, a linguagem que é o que queremos dizer.
Frank Gehry, Walt Disney Concert Hall, 2003
Só que para fazermos poesia precisamos de ter uma relação, saber interpretá-la, e ter á nossa disposição léxico que nos permita formalizá-la o mais rigorosa e esclarecidamente possível.
Carrilho da Graça, Parque Forlanini, 2002
É isso que se pede a um arquitecto; sobretudo quando Começa.
Há, evidentemente, um rol de aberturas que fazem parte do livro de notas de qualquer xadrezista; pelo que as consequências de cada abertura são, nos casos dos bons jogadores, facilmente previsíveis. Mas só até determinado ponto do jogo.
Aires Mateus, Grande Museu Egípcio, 2002
Mas começar é sempre um risco; talvez o maior risco que se coloca a um arquitecto; e por isso vale a pena olhar para outros começos, conhecê-los, saber-lhes as diferenças e aquilo que provocaram; sem nunca perder de vista Calvino: a Poesia é a grande inimiga do acaso; sendo embora também filha do acaso e sabendo que o acaso em última instância acaba por ganhar.
Bjarke Ingels Group, site
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