euvg Arquitectura 2008/2009: atelier V, atelier VI, atelier VII, atelier VIII; Pedro Machado Costa, Pedro Cordeiro

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Começar

Comecemos exactamente por tomar de assalto as palavras de Italo Calvino (Lezioni Americane – Sei Proposte per il prossimo milennio, Garzanti, 1990; aqui na sua versão portuguesa: Seis Propostas para o Próximo Milénio, Teorema, 1998; p. 149 e seguintes), exactamente sobre Começar; fazendo delas uso para aquilo que nos convém:

Começar (…) é um momento crucial, como começar a escrever um romance. E este é o momento da opção: oferece-se-nos a possibilidade de dizer tudo, de todos os modos possíveis, e temos de chegar a dizer uma coisa, de um modo particular (…).
Até ao momento anterior que começamos (…) temos á nossa disposição o mundo – o que para cada um de nós constitui o mundo, uma soma de informações, de experiências e valores – o mundo dado em bloco, sem um antes nem um depois, o mundo como uma memória individual e como potencialidade implícita; e nós pretendemos extrair deste mundo um discurso, uma narrativa, um sentimento: ou talvez mais exactamente pretendemos realizar uma operação que permita situar-nos neste mundo.








Toyo Ito, Sendai Mediatheque, 2001

Calvino toca aqui no cerne da questão: começar obriga-nos a situar-nos neste mundo ou, por outras palavras, estabelecermos uma estratégia para apreender esse mundo ou, em limite, parafraseando Nelson Goodman (Ways of Worldmaking, 1978), para fazer o próprio mundo.









Miralles, Mollet del Valles Park and Civic Center, 2000

Evidentemente que este Começar, quer para Calvino quer para Goodman, estabelece-se a partir da ideia de autor. Aquele que começa corresponde à ideia daquele que cria; daquele que escolhe, de entre múltiplos e complexos caminhos, inventar apenas um.








Steven Holl, Kisma Museum of Contemporary Art, 1998

Ser arquitecto é também ser autor; e por isso o acto de Começar é, para o arquitecto, o acto de escolher: uma estratégia, um conceito, um lugar, uma relação, uma ideia, um propósito, ou outra coisa qualquer. Mas começar é, para nós, sempre isso: escolher.









Herzog & de Meuron, Fundacion La Caixa, 2008

Regressando a Calvino:

Temos á disposição todas as linguagens (…) e nós pretendemos extrair delas a linguagem adequada para dizer o que queremos dizer, a linguagem que é o que queremos dizer.

Como se uma arquitectura fosse tudo aquilo com que podemos contar para nos relacionarmos com algo, e nos fazermos compreender sobre aquilo que achamos ser essa relação; o que, em limite, equivale à frase de Kahn: poesia com um monte de tijolos.










Frank Gehry, Walt Disney Concert Hall, 2003

Só que para fazermos poesia precisamos de ter uma relação, saber interpretá-la, e ter á nossa disposição léxico que nos permita formalizá-la o mais rigorosa e esclarecidamente possível.







Carrilho da Graça, Parque Forlanini, 2002

É isso que se pede a um arquitecto; sobretudo quando Começa.

A primeira lição a reter é, portanto, aquela que todos os jogadores de xadrez sabem de antemão: que só devem mexer uma peça quando têm já definido uma estratégia.
Há, evidentemente, um rol de aberturas que fazem parte do livro de notas de qualquer xadrezista; pelo que as consequências de cada abertura são, nos casos dos bons jogadores, facilmente previsíveis. Mas só até determinado ponto do jogo.

Aquilo que se vos pede ao iniciar um projecto, seja de um Hotel ou de uma Biblioteca, é que percebam de antemão (algumas) consequências das vossas aberturas; ou seja: do começo do projecto. Sem nunca esquecer que só vale a pena começar (a jogar xadrez e a projectar) quando se tem uma estratégia.










Aires Mateus, Grande Museu Egípcio, 2002


Mas começar é sempre um risco; talvez o maior risco que se coloca a um arquitecto; e por isso vale a pena olhar para outros começos, conhecê-los, saber-lhes as diferenças e aquilo que provocaram; sem nunca perder de vista Calvino: a Poesia é a grande inimiga do acaso; sendo embora também filha do acaso e sabendo que o acaso em última instância acaba por ganhar.












Bjarke Ingels Group, site


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Leituras do Mês

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Eládio Dieste

A obra do Uruguaio Eladio Dieste (1917-2000) entre a década de 50 e o final do séc., numa edição de luxo da Electa. O livro fica a cargo de Mercedes Daguerre, e tem textos de Mario Chirino, de Graciela Silvestri e do próprio Dieste: senza la rivelazione del mistero del mondo che viene dall'arte non faremo mai della nostra vita qualcosa di realmente umano.

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Obradoiro

O regresso de uma das publicações mais significativas do final da década de 80 / principios de 90, em Espanha e Portugal. Publicado pelo Colexio Oficial de Arquitectos de Galicia, e sob a Direcção de Carlos Pita, o número 33 de Obradoiro dedica-se ao Pequeno. Destaque-se o texto e Óscas Tenreiro (o Legado de Firminy), e os projectos de Solano Benítez e de César Portela.

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