Sandrine Portas pergunta se pode "atribuir" a obra de Rem Koolhaas (no caso particular da Casa da Música) ao livro de Leach (A anestética da Arquitectura); e Mónica Marinheiro pede que se lhe indique um arquitecto cuja obra possa exemplificar o conteúdo expresso na obra de Augé (Não Lugares).
Em relação a essas dúvidas tenho a referir que é exactamente nesta questão (qual o arquitecto que, de uma forma ou outra, possa ser "comparado" com o conteúdo de um ensaio) que reside a dificuldade, mas também o interesse do exercício; sendo que a resposta que cada aluno encontrar para responder ao trabalho, e também o modo de estabelecer essa relação, é que irão fazer do Complexidades e Contradições um bom (ou um mau) trabalho.
Evidentemente que Complexidades e Contradições está a pôr à prova a cultura arquitectónica dos Alunos; sendo expectável que cada um seja capaz, não só de conhecer obras e autores com significado mas, sobretudo, saber interpretá-los a nível teórico, fazendo pontes com outros modos de pensamento.
Assim, e para (não) responder às questões directas de Mónica Marinheiro e de Sandrine Portas, tenho apenas a dizer que qualquer arquitecto é passivel de ser escolhido; desde que os Alunos consigam demonstrar que as ideias, conceitos, modos de fazer, intenções, etc. das obras desses autores tenham eco no conteúdo dos livros, e/ou vice-versa.
Impõe-se, claro, que cada aluno compreenda aquilo que o livro representa para a cultura arquitectónica, e por isso deverão ser primeiramente retiradas conclusões sobre as obras teóricas.
A partir daí poderão escolher um arquitecto cujas obras comprovem a tese do autor, ou a contradigam; até porque seria expectável que cada aluno tivesse uma atitude crítica face ao que acabou de ler: se concorda ou não, se acha positivo ou negativo, etc.; sendo, claro, que a escolha do arquitecto terá muito a ver com o que cada um de voçês quiser dizer sobre o livro.
E nesse sentido, se tivesse que falar sobre os Não-Lugares, poderia referir (por exemplo) a obra de José Luis Sert, sobretudo na sua fase americana, ou até Mies (também na américa), mas também Gerry (só alguma obra, claro), ou Foster (hum), as coisas do Koolhaas (sobretudo a partir do séc. XXI, com intensidade na China); ou, do lado oposto da barricada, Sert (em Barcelona), Mies (early works...ou nem tanto), Gerry (estou a lembrar-me das coisas em Malibu, e mesmo a cada dele), ou Koolhaas (o do Kunstall de Roterdam)... como também Chipperfiled, ou (se quiséssemos ser óbvios) Siza de um lado e SOM do outro (mas nem isso é inteiramente verdade).
A confusão seria ainda maior para falar na "estetização" da arquitectura: Herzog e de Meuron (pós anos 90) de um lado, Herzon e de Meuron (pré-anos 90) do outro; as paredes de betão de Miguel Fisac vs. a funcionalidade de J.J.P. Oud; ou, claro, o Koolhaas (mas de que lado?...o homem não pára). É a obra de Miguel Fisac em exemplo de estétização? E o Saarinen?

Miguel Fisac, Centro Social de las Hermanas Hospitalarias, Madrid, 1986: a arquitectura a partir da imagem?

Saarinen, TWA Terminal, JFK Airport, 1962: um Não-Lugar?

J.J.P. Oud, Kiefhoek, Rotterdam, 1930: funcionalismo ou estetização radical?
Isto só para referir que a escolha é vossa; terá a ver com a vossa interpretação do livro (e a vossa concordância com o conteúdo), e depoios sobre aquilo que acham que representa a obra de um determinado arquitecto.
Difícil? É.
2 comentários:
Professor já publiquei no blog alguma informação acerca do exercício 5. Estou com alguma dificuldade em relacionar os Archigram com as citações que publiquei. Se houver novidades em relação ao trabalho gostaria que me informa-se terça. Na aula falamos melhor. Bom domingo!
Pois é Daniel. Também acho muito difícil relacionar a Tese de Venturi com Archigram, que na verdade também é uma (outra) Tese.
A ideia do Venturi é, simplesmente, provar que a arquitectura moderna (em sentido lato, claro) já não depende de cânones (chamemos-lhe assim por agora) para ser de facto Arquitectura, podendo "desligar-se" de um conjunto de regras; e apropriar-se de outros universos "menos" disciplinares.
Ao contrário do que afirmas no teu Blog, Complexidades e Contradições é, porventura, um dos livros que mais alterações provocou na arquitectura após a revolução modernista; e as suas consequências são ainda bastante sentidas.
Julgo que o modo mais evidente de relacionar Venturi e Archigram seria, à primeira vista, abordar o tema da Cultura Popular; e para isso deverias, claro, pegar num outro livro do Venturi que contínua o Complexidades: Learning with Las Vegas.
Levo-te o livro na Terça.
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